Edição 1 641 - 22/3/2000
 

Vovó sai de férias 

Com a diversificação dos roteiros, aumenta
o número de turistas da terceira idade

Juliana De Mari 
 
 

Sábado, 6 da manhã. A algazarra domina a estação central de trem de Campinas, a 100 quilômetros de São Paulo. Cinqüenta turistas de cabelos grisalhos preparam-se para embarcar rumo a um passeio pelo interior paulista. A bordo de uma maria-fumaça, a euforia é tanta que aqueles senhores e senhoras até parecem colegiais em viagem de férias. No caminho, pausa para visitar um museu de locomotivas antigas e quatro seculares fazendas de café. Duas horas depois, o grupo desembarca na cidade de Itu. Lá, eles passam o resto do dia no Camping Casarão. Aprendem a montar e desmontar uma barraca e fazem caminhadas pelo meio da mata. Acampamento para idosos? Até pouco tempo atrás, seria mesmo de estranhar. O passeio oferecido pela agência Master-Baroni, no entanto, reflete uma nova tendência de turismo no Brasil. Com dinheiro e tempo disponíveis, cheios de vigor, os sessentões já respondem por 20% do total de viagens domésticas. No ano passado, quase 9 milhões de idosos percorreram o país de norte a sul – um aumento de 5% em relação a 1998. 

A diversificação das ofertas de viagens para a terceira idade é mais que oportuna. O Brasil, antes conhecido como país jovem, hoje está envelhecendo. São cerca de 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Em 2025, prevê-se, serão o dobro. "Com a saúde mais bem cuidada, a expectativa de vida dos brasileiros deu um salto, e nossos idosos se tornaram mais independentes e desejosos de aproveitar a vida", diz a geriatra carioca Carla Fromüller. Uma pesquisa da Associação Brasileira dos Clubes da Melhor Idade – cujos membros são na maioria sessentões –, realizada no final do ano passado, concluiu que 85% dos 220.000 associados viajam três vezes por ano, uma das quais para o exterior. A renda dos turistas de cabelos brancos gira em torno de 1.300 reais mensais. Gastam, em média, 750 reais por viagem, sem contar as despesas com cartão de crédito. De cada dez, nove são mulheres. Na maioria, viúvas. Se o passeio render um curso de línguas, informática ou pintura, melhor ainda. 

O mesmo fenômeno é observado em outros países onde o aumento da expectativa de vida criou uma enorme demanda de lazer para a terceira idade. Nos Estados Unidos, o turista de cabelos brancos representa 80% do mercado doméstico. "A idéia é incentivar os descontos em agências, hotéis e companhias aéreas para em breve chegar mais perto dos índices americanos", diz a coordenadora do programa da terceira idade da Embratur, Ingrid Luck. Os novos roteiros oferecidos pelas agências de turismo pouco têm a ver com as tradicionais excursões para estâncias de águas termais, praias do Nordeste ou compras em Nova York – programas cujo ápice era, invariavelmente, a hora do bingo. O que se apresenta agora é muito mais animado. Acampar é apenas uma das opções para idosos. Há ainda roteiros ecológicos com direito a trilhas, banhos de cachoeira e descida de corredeiras em botes infláveis. 

Existem também programas de intercâmbio no exterior. Foi-se o tempo em que aprender uma língua estrangeira hospedado em casa de família era experiência típica de adolescentes. Em maio de 1999, às vésperas de completar 65 anos, o empresário gaúcho Leo Medina Martins embarcou para uma temporada na pequena Bournemouth, cidade no litoral da Inglaterra. Ficou hospedado em uma casa de família. A "mãe" inglesa era uma jovem senhora quarentona. A "irmã" de 18 anos poderia ser sua neta. "Confesso que no momento da inscrição estava um pouco receoso", conta Martins, que viajou pela Central de Intercâmbio de São Paulo. "Imaginava que seria o velho da turma." Qual não foi sua surpresa ao notar que os colegas de classe tinham, em média, dez anos mais que ele. "Além de melhorar o inglês, voltei a me sentir um garotão", comemora.