Vovó sai de férias
Com a diversificação dos roteiros, aumenta
o número de turistas da terceira idade
Juliana De Mari
Sábado, 6 da manhã. A algazarra domina a estação
central de trem de Campinas, a 100 quilômetros de São Paulo.
Cinqüenta turistas de cabelos grisalhos preparam-se para embarcar
rumo a um passeio pelo interior paulista. A bordo de uma maria-fumaça,
a euforia é tanta que aqueles senhores e senhoras até parecem
colegiais em viagem de férias. No caminho, pausa para visitar um
museu de locomotivas antigas e quatro seculares fazendas de café.
Duas horas depois, o grupo desembarca na cidade de Itu. Lá, eles
passam o resto do dia no Camping Casarão. Aprendem a montar e desmontar
uma barraca e fazem caminhadas pelo meio da mata. Acampamento para idosos?
Até pouco tempo atrás, seria mesmo de estranhar. O passeio
oferecido pela agência Master-Baroni, no entanto, reflete uma nova
tendência de turismo no Brasil. Com dinheiro e tempo disponíveis,
cheios de vigor, os sessentões já respondem por 20% do total
de viagens domésticas. No ano passado, quase 9 milhões de
idosos percorreram o país de norte a sul – um aumento de 5% em relação
a 1998.
A
diversificação das ofertas de viagens para a terceira idade
é mais que oportuna. O Brasil, antes conhecido como país
jovem, hoje está envelhecendo. São cerca de 15 milhões
de pessoas com mais de 60 anos. Em 2025, prevê-se, serão o
dobro. "Com a saúde mais bem cuidada, a expectativa de vida dos
brasileiros deu um salto, e nossos idosos se tornaram mais independentes
e desejosos de aproveitar a vida", diz a geriatra carioca Carla Fromüller.
Uma pesquisa da Associação Brasileira dos Clubes da Melhor
Idade – cujos membros são na maioria sessentões –, realizada
no final do ano passado, concluiu que 85% dos 220.000
associados viajam três vezes por ano, uma das quais para o exterior.
A renda dos turistas de cabelos brancos gira em torno de 1.300
reais mensais. Gastam, em média, 750 reais por viagem, sem contar
as despesas com cartão de crédito. De cada dez, nove são
mulheres. Na maioria, viúvas. Se o passeio render um curso de línguas,
informática ou pintura, melhor ainda.
O mesmo fenômeno é observado em outros países onde
o aumento da expectativa de vida criou uma enorme demanda de lazer para
a terceira idade. Nos Estados Unidos, o turista de cabelos brancos representa
80% do mercado doméstico. "A idéia é incentivar os
descontos em agências, hotéis e companhias aéreas para
em breve chegar mais perto dos índices americanos", diz a coordenadora
do programa da terceira idade da Embratur, Ingrid Luck. Os novos roteiros
oferecidos pelas agências de turismo pouco têm a ver com as
tradicionais excursões para estâncias de águas termais,
praias do Nordeste ou compras em Nova York – programas cujo ápice
era, invariavelmente, a hora do bingo. O que se apresenta agora é
muito mais animado. Acampar é apenas uma das opções
para idosos. Há ainda roteiros ecológicos com direito a trilhas,
banhos de cachoeira e descida de corredeiras em botes infláveis.
Existem também programas de intercâmbio no exterior. Foi-se
o tempo em que aprender uma língua estrangeira hospedado em casa
de família era experiência típica de adolescentes.
Em maio de 1999, às vésperas de completar 65 anos, o empresário
gaúcho Leo Medina Martins embarcou para uma temporada na pequena
Bournemouth, cidade no litoral da Inglaterra. Ficou hospedado em uma casa
de família. A "mãe" inglesa era uma jovem senhora quarentona.
A "irmã" de 18 anos poderia ser sua neta. "Confesso que no momento
da inscrição estava um pouco receoso", conta Martins, que
viajou pela Central de Intercâmbio de São Paulo. "Imaginava
que seria o velho da turma." Qual não foi sua surpresa ao notar
que os colegas de classe tinham, em média, dez anos mais que ele.
"Além de melhorar o inglês, voltei a me sentir um garotão",
comemora.